domingo, 2 de julho de 2006

.::A escrita e a leitura dos jovens::.

.::Comentário publicado na comunidade Blogs Educativos a partir da entrevista da professora Maria Teresa Freitas::.

A Internet tem se mostrado um ambiente favorável para a leitura e a escrita, sem sombra de dúvida. É inegável que seus usuários (e aqui incluo alunos e professores) têm acesso a um universo de informações e a possibilidade de interações através de inúmeras ferramentas disponíveis, muito além de blogs e chats. Infelizmente, os professores enxergam as novas tecnologias como uma ameaça e acabam olhando para elas preconceituosamente. Acredito que nós, professores que atuam com a informática procurando dar a ela um caráter ‘educativo’, vemos com mais facilidade as possibilidades que as ferramentas virtuais oportunizam. Porém, isto não é uma regra! E aqui temos um desafio: como sensibilizar nossos colegas para o uso educativo da informática?

Acho fantástica a facilidade que temos hoje em publicar nossas idéias e podermos debatê-las com pessoas que nunca vimos, mas com as quais temos uma relação de respeito e troca (esta comunidade é um bom exemplo!). E quantos dos nossos colegas professores já tiveram esta experiência? E nossos alunos internautas? Não estão constantemente se comunicando, concordando, discordando, lendo e escrevendo sua opinião na net?

Durante muito tempo ler e escrever na escola não passou de uma obrigação (nem tenho tanta certeza que isto tenha definitivamente mudado, mas...). É dever da escola sim contribuir para a sistematização dos processos de leitura e escrita, mas considerando as necessidades do mundo atual, da sociedade do conhecimento, também deveria ser um dever usar as TICs para contribuir na construção do conhecimento.

Na minha opinião, damos um caráter formal demais para a escrita, por isso há tanto PRECONCEITO em relação a escrita na Internet. As pessoas não falam diferente dependendo da sua região? E respeitamos isso! A gente não fala diferente quando está diante de uma platéia de quando estamos entre amigos? E isso é normal! Então qual é o problema de escrever diferente quando estamos em um chat? O que devemos deixar claro é que existem formas diferentes de escrever dependendo da ocasião, assim como há diferentes formas de falar! O problema (na minha insignificante opinião) é que até bem pouco tempo atrás, ler e escrever era privilégio de poucos. Historicamente, o acesso a leitura e a escrita era para poucos, pouquíssimos. Pra falar a verdade, a quanto tempo a grande massa da população brasileira tem garantido o acesso a escola?

Bem, voltando a discussão, os meios digitais estão conseguindo dar um caráter mais informal a escrita, podemos escrever pelo simples prazer de escrever...para contar o que tem acontecido na nossa vida...publicar aqueles versos...debater sobre assuntos polêmicos...o que até pouco tempo fazíamos em cadernos que ficavam escondidos nas gavetas! Agora, além de escrevermos podemos mostrar para os outros aquilo que pensamos...não é o máximo??? E os outros podem entrar em contato com a gente!!! Ler, comentar, INTERAGIR. E isso o professor não entende, porque não usa a Internet como ferramenta de interação e construção de conhecimento, por isso é mais fácil dizer que “é ruim” e “prejudica a aprendizagem”.

Concordo com as ‘discordâncias’ da Marli, quanto ao uso dos blogs e chats.

Primeiro, a escola deve assumir seu papel, que é a APRENDIZAGEM (não ensinagem, heheh). Se vamos trabalhar com blog na escola ele será um ‘objeto escolar’. E quando a Marli questiona se “não existirão propostas interessantes que envolvam os educandos mesmo sendo escolares”, eu pergunto: e os blogs que vocês têm criado com seus alunos, não são um exemplo BEM SUCEDIDO do uso dos blogs com objetivos pedagógicos claros???

Segundo, se o foco do trabalho escolar é a aprendizagem, o que é mais importante: conteúdos ou competências? Se eu acredito em um trabalho escolar baseado em competências, não vou ficar presa aos conteúdos, pensando se um chat é melhor para este ou aquele conteúdo, mas sim em quais competências ele vai desenvolver nos meus alunos. Inclusive a de comparar as diferentes formas de escrita e saber quando usá- las, assim como a linguagem oral. E se o meu aluno tiver as competências da leitura e da escrita, ele vai se sair bem em qualquer “conteúdo” de qualquer “disciplina”.

Terceiro, o que esperamos do cidadão da sociedade do conhecimento? Não é uma pessoa crítica, criativa, capaz de solucionar seus problemas de uma forma eficiente e dinâmica? Então, um aluno que em um chat (ou outra situação virtual) é capaz de criar uma nova forma de se comunicar através de um novo gênero discursivo (como cita a autora) não seria capaz de se apropriar de outros gêneros? E porque não experimentar outros gêneros em um chat e perceber as diferenças entre eles? Já pensou fazer um bate-papo poético??? Seria uma forma interessante de perceber as diferenças entre a linguagem escrita e seus gêneros!

Concluindo, acredito que enquanto os professores não se apropriarem das ferramentas virtuais, não vão conseguir fazer a relação entre elas e os objetivos da escola. Inclusive, enquanto os objetivos da escola não estiverem claros, e o foco do trabalho for apenas os conteúdos, a Internet será um problema! No meu ponto de vista, ela pode contribuir significativamente para os processos de construção do conhecimento, oferecendo recursos e ferramentas que possibilitam a interação dos sujeitos com o objeto (como propôs Piaget), mas este assunto deixo para a próxima mensagem...

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